No último episódio do Bolder Podcast, apresentado por Fillipe Cardoso, mergulhamos em uma história inspiradora e comovente: a jornada de Márcia Miranda. Ela é co-fundadora do grupo “Amor Simples de Doar”, uma iniciativa vital que oferece suporte a brasileiros com câncer na Irlanda. Este post vai detalhar como Márcia transformou desafios pessoais em uma causa maior, oferecendo uma perspectiva real sobre imigração, saúde e solidariedade no exterior.
A Jornada de Márcia: Da Publicidade no Brasil à Vida na Irlanda
Márcia Miranda, natural de Santa Catarina, passou 22 anos trabalhando com publicidade em São Paulo. Apesar de uma carreira bem-sucedida, ela sentia que algo faltava e buscava novas experiências, além de querer aprender inglês. Em 2010, aos 46 anos, tomou a decisão ousada de largar tudo no Brasil, vender seus bens e se mudar para a Irlanda como estudante, sem planos de retornar.
Ela enfrentou desafios típicos de quem recomeça a vida adulta em um novo país, como ser uma estudante mais velha entre jovens e ter que trabalhar para se sustentar. Em 2011, Márcia conheceu seu futuro marido irlandês e, superando a relutância inicial em relação aos seus quatro filhos adolescentes, construiu uma nova vida. Ela trabalhou em diversas áreas, de limpeza de escritórios a babá, sempre com muita dedicação.
O Diagnóstico de Câncer na Irlanda: Desafios e Superação
Navegando o Sistema de Saúde Irlandês
Em 2018, Márcia começou a sentir sintomas como fadiga extrema, palpitações e queda de cabelo. Ela destaca uma diferença crucial no sistema de saúde irlandês: a ausência de medicina preventiva, onde as pessoas geralmente procuram um médico apenas quando há um problema. Sua médica de família (GP) notou a baixa contagem de neutrófilos e a encaminhou para hematologia.
Um episódio marcante foi quando um médico inicialmente descartou seus sintomas como um “problema étnico” por ela ser brasileira. Márcia enfatiza a importância de questionar e lutar por si mesmo no sistema de saúde.
A Descoberta e o Tratamento
Em 2021, um caroço no pescoço levou a uma biópsia, confirmando o câncer em junho. O câncer era inicialmente indefinido, o que resultou em uma busca exaustiva pela origem. Apesar de um pequeno tumor na mama ter sido encontrado, não era o foco principal. Finalmente, por sugestão da oncologista, foi descoberto câncer de ovário em estágio 4, uma condição muitas vezes silenciosa e avançada quando diagnosticada.
Durante esse período desafiador, Márcia manteve seu casamento, marcado para agosto de 2021, antes mesmo de sua cirurgia. Seu médico a encorajou, vendo a união como um merecido respiro. Ela iniciou a quimioterapia em 1º de outubro de 2021, após um extenso preparo para o tratamento agressivo, descrevendo o impacto emocional e físico, como náuseas e fadiga.
Márcia, a Palhaça da Quimioterapia e o Poder da Positividade
Para desviar o foco da doença, Márcia teve uma ideia inusitada: ir às sessões de quimioterapia fantasiada. Vestida como Olaf, de Frozen, distribuindo pirulitos, ela transformou o ambiente da sala de tratamento, levando sorrisos a pacientes e enfermeiros. Essa iniciativa chamou a atenção, rendendo-lhe uma matéria no jornal Independent e tornando-a um símbolo para o Daffodil Day da Sociedade Irlandesa de Câncer.
Além das fantasias, Márcia passou a levar “casadinhos” (biscoitos brasileiros) para a equipe e outros pacientes, algo que se tornou uma rotina muito apreciada. Ela também criou camisetas com mensagens inspiradoras, como “Não deixe a doença ser maior do que a história de vida que você já escreveu”, que tocaram profundamente outros pacientes. Sua oncologista, inicialmente surpresa, reconheceu que a positividade de Márcia contribuiu em 50% para sua recuperação do câncer em estágio 4. Após 8 meses de quimioterapia, seguiu-se um ano de imunoterapia.
Nasce o “Amor Simples de Doar”: Apoio a Brasileiros com Câncer na Irlanda
Em 2023, Márcia enfrentou um novo desafio: uma metástase, um novo tumor originado do câncer de ovário, localizado entre o rim direito e a coluna, tornando a cirurgia impossível. Ela optou por quimioterapia novamente, evitando a radioterapia que resultaria na perda do rim.
Foi durante sua primeira batalha contra o câncer que Márcia percebeu a enorme necessidade de suporte para brasileiros com câncer na Irlanda, especialmente estudantes sem apoio familiar ou fluência em inglês. Um post no Facebook oferecendo ajuda deu origem ao grupo “Amor Simples de Doar”.
Apoio Integral e Comunitário
O grupo oferece um suporte diversificado, incluindo acompanhamento em consultas médicas, orientações práticas e conforto emocional. Com voluntários em Limerick, Galway e Cork, eles visitam pacientes em hospitais. Além disso, ajudam a navegar o sistema de saúde irlandês, entender benefícios e estender vistos, se necessário. O grupo de WhatsApp conta com 87 membros, entre pacientes, sobreviventes e voluntários, promovendo um ambiente de acolhimento e livre de julgamentos. Essa rede de apoio também alivia a preocupação de famílias no Brasil.
Advocacia por Doação de Sangue e Órgãos
Uma das maiores bandeiras do “Amor Simples de Doar” é lutar para que brasileiros sejam autorizados a doar sangue e órgãos na Irlanda. Eles trabalham em conjunto com a Embaixada Brasileira e estudantes de medicina, pesquisando sobre a doença de Chagas para desmistificar preocupações sobre doações de brasileiros.
Márcia sonha em expandir o “Amor Simples de Doar” internacionalmente, com grupos semelhantes em outros países como Itália e Alemanha.
Conclusão: Uma História de Resiliência e Amor ao Próximo
A história de Márcia Miranda é um testemunho de resiliência e da capacidade humana de transformar adversidades em oportunidades de ajudar o próximo. O “Amor Simples de Doar” é um farol de esperança e apoio para brasileiros com câncer na Irlanda, mostrando que, mesmo longe de casa, a comunidade e a solidariedade podem fazer toda a diferença.
Se você ou alguém que conhece precisa de apoio ou deseja ser voluntário, Márcia encoraja a entrar em contato com o grupo através do Instagram (@amorsimpledidoar) ou Facebook. Eles também possuem um podcast no YouTube, “Amor Simples de Doar Podcast”, com depoimentos de sobreviventes e discussões sobre câncer.
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