O episódio mais recente do Bolder Podcast, apresentado por Fillipe Cardoso, traz uma história de resiliência que vai muito além dos clichês da imigração. William, que hoje vive com visto de trabalho na Irlanda, compartilha sua jornada de superação, que começou com um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e uma profunda depressão no Brasil, e culminou em um recomeço que, segundo ele, foi literalmente uma questão de vida ou morte.
Este post é um resumo fiel aos argumentos e fatos apresentados por William, um ex-enfermeiro que teve a coragem de se “jogar no fogo” para salvar a própria vida.
O Colapso no Brasil: AVC, Depressão e o Fim da Carreira
William trabalhou por 9 anos como enfermeiro assistencial em um renomado hospital de São Paulo. Ele havia conquistado estabilidade material—carro e apartamento—e era o pilar de sua família, tendo ajudado a criar os irmãos mais novos.
Contudo, a rotina esgotante (chegando a trabalhar em dois hospitais, dormindo 4-5 horas por noite) cobrou seu preço:
- O AVC Iscêmico: Uma semana antes de completar 30 anos, William sofreu um AVC isquêmico. Ele estava em uma concessionária, sentiu o lado esquerdo do corpo “cair no chão” e a boca entortar, e usou seu conhecimento de enfermagem para acionar o socorro imediatamente, pedindo para ser levado ao hospital onde trabalhava.
- As Sequelas Ocultas: Apesar de parecer bem após o tratamento inicial, as sequelas vieram aos poucos, como problemas de memória e espasmos na mão esquerda. William não aceitou as limitações, voltando a trabalhar em duas semanas e forçando o corpo ao limite, um período que ele descreve como ter passado “que nem um trator em cima do meu corpo”.
- A Depressão e o Risco de Morte: O colapso foi inevitável. William desenvolveu depressão. Ele estava com risco iminente de morrer e, após refletir sobre sua vida e apegos materiais, tomou uma decisão drástica: “Já sei, eu vou para fora do país, eu vou me jogar no fogo”.
A Causa Real: William revelou a Bolder que a causa do AVC era um problema congênito no coração (três conexões nos átrios), que fez com que o coágulo fosse direto para o cérebro em vez de ser barrado no pulmão. Antes de vir para a Irlanda, ele colocou uma prótese via cateterismo para sanar o risco de múltiplos AVCs.
“Eu Vim Para Salvar Minha Vida”: A Mudança para a Irlanda
A mudança para a Irlanda não foi um sonho de intercâmbio, mas uma estratégia de sobrevivência. William é enfático: “Eu vim aqui por questão de vida, o board para salvar minha vida. Eu não vim [porque] eu tenho sonho de falar inglês”.
O Perrengue do Recomeço
- O Início em Limerick: A princípio, William se mudou para Limerick. O começo foi difícil, especialmente na questão da linguagem e da burocracia. Demorou quatro meses para conseguir o PPS na cidade, um processo que ele encurtou indo a uma cidade vizinha.
- A Luta Financeira e o Custo da Saúde: Durante o período sem trabalhar (três meses), ele descobriu que suas medicações psiquiátricas do Brasil custavam 300€ a primeira prescrição na Irlanda, pois não havia genéricos disponíveis. Sem saber do esquema de teto de pagamentos na farmácia (e sem o PPS no início), William tentou o desmame da medicação por conta própria, o que levou a um colapso: ele foi internado em Limerick por oito dias com dor neuropática, sentindo choque no corpo inteiro e sem falar inglês para se comunicar.
- Salvo Pela Empatia: A salvação veio através do networking (rede de contatos). William conseguiu uma consulta com uma médica de família (GP) brasileira (Dra. Neguim) que atuava na Irlanda. Ela o atendeu, ajustou suas medicações e até lhe deu a vacina da gripe por sua conta, dizendo: “pode ficar tranquilo que é pra minha conta”. Ela o acompanha até hoje.
O Visto de Trabalho e a Redescoberta no Homecare
Após trabalhar como floor staff (limpando banheiro em um night club em Limerick) e ter um carro apreendido pela Garda (polícia irlandesa) por dirigir ilegalmente, William finalmente conseguiu migrar para a área de Homecare (cuidador de idosos) em Dublin.
Ele preferiu trabalhar em homecare—indo de casa em casa para atender um paciente por vez—a trabalhar em nursing homes, pois sente que a atenção de 1h a 1h30 por paciente é de maior qualidade.
Apesar de ser um trabalho puxado (chegando a pedalar 40km por dia no início), sua experiência anterior na enfermagem tornou a rotina “prazerosa e eficiente”.
O Professor Surdo: A Lição que Não Estava no Currículo
Em um dos seus atendimentos, William cuidava de um senhor surdo que lia lábios. Com seu inglês péssimo, William era frequentemente repreendido: “O seu inglês é horrível, você tem que arrumar uma vaga de acordo com o seu inglês”.
No entanto, William confrontou o paciente, dizendo que ele também tinha suas limitações (internas, por conta do AVC). A partir desse momento, o paciente criou um vínculo e passou a ensinar-lhe inglês de forma metódica. Em uma ocasião, o paciente disse: “Seu inglês melhorou muito, viu? Sua mãe vai ter muito orgulho de você quando você for pro Brasil”. Para William, isso é a maior recompensa.
Conclusão: As Limitações Quem Coloca Somos Nós
Depois de sete meses como estudante, a empresa onde William trabalhava no Homecare concedeu o seu visto de trabalho na Irlanda.
William resume sua experiência: a Irlanda foi um momento de isolamento que o forçou a ter autoconhecimento e a se respeitar. Ele conseguiu transformar algo negativo em algo bom, mostrando que a vida continua.
A mensagem principal que William deixa para o público do Bolder é:
“As limitações quem coloca somos nós, e você não precisa provar nada para as outras pessoas. Você tem que provar para você mesmo.”
Após 1 ano e meio sem traços de depressão, William está vivendo a vida que veio buscar: uma vida normal e com propósito.
Quer saber mais sobre essa jornada de superação e a fundo nos detalhes da imigração? Assista ao episódio completo do Bolder Podcast no YouTube!