Em um dos episódios mais inspiradores do Bolder Podcast, Fillipe Cardoso (Bolder) recebe Silvia Mantovani, escritora e viajante que transformou uma fuga em uma missão de vida. Silvia, autora do livro “40 antes dos 40,” compartilhou a emocionante história de como o trauma de um relacionamento abusivo se tornou o combustível para sua incrível jornada de viagem solo feminina, levando-a a conhecer 71 países.
Esta é uma postagem de blog fiel ao que foi discutido, destacando os perrengues, as lições e a linha de raciocínio de quem trocou a dor pela aventura.
O Ponto de Virada: De Vítima a Viajante Profissional
A história de Silvia é um testemunho de reinvenção. Em 2013, aos 36 anos, ela se viu em uma situação limite em Barcelona, precisando fugir literalmente de uma relação abusiva onde sua família e ela eram ameaçadas de morte [03:54], [04:16].
No meio da fuga, em uma viagem a Roma, ela procurava uma luz para o futuro [05:15]. Inspirada pelo livro “Comer, Rezar e Amar,” que narra uma viagem de cura após um relacionamento infeliz, Silvia estabeleceu uma meta ousada: conhecer 40 países antes dos 40 anos [06:19], [06:25].
- A Origem da Meta: Com 36 anos, sem dinheiro, sem casa e sem perspectiva, ela havia conhecido apenas 12 países [06:10], [06:42]. O objetivo era visitar os 28 restantes em menos de quatro anos, e essa meta se tornou um “mantra” e uma “obsessão” [06:51], [08:55].
- Irlanda: O Hub da Aventura: Em novembro, a ideia foi concebida. Em março, ela aterrissou na Irlanda como estudante, onde descobriu a Ryanair. Ela relata que trabalhava 18 horas por dia para juntar dinheiro [08:31] e aproveitar as passagens baratas, viajando constantemente pela Europa, acumulando países para sua lista [07:48].
A Conquista Solo de um Sonho Antigo
Um dos capítulos mais emocionais da sua história é a realização do sonho de conhecer Nova York. Durante o relacionamento abusivo, o ex-parceiro, que tinha muitas posses, usava a promessa da viagem como uma forma de “tortura psicológica,” fazendo-a planejar, mas nunca a levando [10:37], [10:45].
Ao realizar a viagem sozinha, Silvia descreve a emoção de chorar “de felicidade” ao subir no edifício Rockfeller. A realização do sonho por conta própria foi muito mais especial, confirmando o poder da sua nova jornada [10:55], [10:59].
Turismo de Aventura ou Viagem “Instagramável”?
Silvia afirma que seu estilo de viagem é o oposto do “Instagramável” [15:20]. Para ela, o objetivo é a aventura, a imersão e o contato com os locais, e não a foto perfeita [14:41].
- Evitando a Competição: Ela critica a “competição de fotos bonitas” que faz as pessoas gastarem horas numa fila para o ângulo perfeito [14:08], [14:26].
- Experiências Radicais: O foco na aventura a levou a lugares inusitados, como ficar 40 dias na África, incluindo 20 dias na Etiópia visitando tribos isoladas no Omo Valley, sem tirar nenhuma foto sua com os membros da tribo [17:56], [18:24]. Ela também prova comidas exóticas, como escorpião e larvas na Tailândia [20:00].
- Hospedagem e Custos: Para manter o ritmo, ela se hospedou muito em hostels e ainda continua nessa prática, provando que é possível viajar o mundo sem gastar fortunas [12:09].
Os Perrengues Que Ensinam: Índia e o Risco de Viajar Sozinha
Embora se considere uma “viajante profissional” capaz de detectar perigos, Silvia teve experiências chocantes, especialmente na Índia [20:56].
1. Perdida em uma Favela Indiana (Slum)
Silvia descreve a Índia como uma terra de “um dia de bênção e um dia de perrengue muito pesado” [24:21]. O maior perrengue foi em Nova Deli, quando seu transfer, recém-habilitado, a levou por engano para dentro de um slum (favela indiana) [26:15], um local sem eletricidade e perigoso [26:55].
- Medo e Ajuda Inesperada: Com homens cercando o carro, ela temeu pela vida, pensando: “Eu vou morrer aqui e a minha família não vai achar o meu corpo” [27:31], [27:43]. Por sorte, um casal indiano que ela havia conhecido no voo, de alto status social e temente ao karma, prestou toda a assistência. Eles colocaram um motorista particular à sua disposição para o restante da estadia na cidade [28:54], [30:10].
- Imersão Cultural: Mesmo com os perrengues, ela se jogou na cultura, comendo comida de rua (apimentada como conservante) [28:42] e lavando o rosto nas águas do Ganges em Varanasi [31:12]. Apesar de tudo, Silvia ama a Índia e sonha em morar lá por um tempo [32:03].
2. O Choque de Bangladesh e a Tragédia em Tribo Africana
O país que mais a impressionou negativamente foi Bangladesh, pela questão da poluição, da superpopulação (maior índice populacional por metro quadrado) e por questões sociais. Ela ficou chocada com a venda de uma planta altamente cancerígena consumida pelos trabalhadores para suportar a jornada de trabalho, um sinal de escravidão moderna [13:48], [35:19], [35:39].
Na África, uma das cenas mais fortes foi o resgate de uma mulher de uma tribo isolada, que usava alargadores labiais, a um hospital próximo. A mulher estava tão debilitada que uma parte do lábio caiu dentro do carro [39:54], [40:12].
Dicas e Perspectivas de Quem Viajou o Mundo
Vale a pena viajar sozinha? Para Silvia, sim, mas é preciso ir com a mente aberta, buscando sempre a sua própria perspectiva [48:16].
- Egito com Segurança: Para evitar cair em “golpes atrás de golpes” [49:44], ela recomenda o planejamento de passeios com guias e tours fechados (como Get Your Guide ou Viator) e o uso de Uber para locomoção, pois o custo é acessível para quem ganha em euro [51:56], [54:30].
- O Brasil Desvalorizado: Bolder e Silvia concordam que o Brasil, apesar de ser um “celeiro cultural” [15:36] e ter um potencial turístico imenso, é desvalorizado. A logística de viagens é cara e limitada (a malha aérea é restrita aos grandes hubs) [11:09], e falta resolver questões como a violência e a imagem internacional do país [10:38], [10:54].
A Mensagem Mais Importante
Questionada sobre o conselho para mulheres em relacionamentos abusivos, Silvia é direta: saia [37:17]. Ela aconselha buscar proteção legal, se estabelecer financeiramente e se programar para sair, pois a situação “só vai piorar com o tempo” [37:39], [38:05].
Conclusão e Próximos Passos
A conversa com Silvia Mantovani no Bolder Podcast é um lembrete poderoso de que a viagem solo feminina pode ser a mais profunda forma de cura e autoconhecimento. Sua história é um exemplo real de como transformar a dor em uma força motriz para mudar de vida, sem a necessidade de romantização.
Se você quer conhecer em detalhes os capítulos mais engraçados (como a confusão com o leite de égua na Mongólia [57:57] ou a aventura na Bulgária ao lado de um possível herdeiro da máfia russa [44:11]) e as dicas práticas de quem já viveu as maiores aventuras do planeta, assista ao episódio completo [VrO83rujZNA]!
O livro “40 antes dos 40” está disponível em versão e-book na Amazon [18:34].
