ESCRITOR BRASILEIRO NA INGLATERRA – Patrick Acosta | Bolder Podcast 487

É com a honestidade de quem viveu o perrengue e a visão de quem alcançou a estabilidade que Patrick Acosta, advogado, escritor gaúcho e residente em Londres há seis anos, detalha a Imigração em Londres no mais recente episódio do Bolder Podcast. Longe de idealizações, a conversa com Fillipe Cardoso (Bolder) se aprofunda na dualidade da capital britânica, os desafios do recomeço e a crítica social que inspirou seu livro, “Para o Céu ou Para o Inferno”.

O Plano Que o COVID Destruiu: A Luta pela Regularização

Patrick, que no Brasil trabalhava como advogado nas áreas cultural e trabalhista [06:55], decidiu migrar com sua esposa, Viviane, por insatisfação com a política brasileira e admiração pela cultura e arte britânica [07:43]. A mudança, planejada em meio à corrida contra o tempo devido ao Brexit, dependia da cidadania italiana da esposa [08:38].

O “primeiro soco” veio com a pandemia de COVID-19, que forçou Viviane a retornar antes de finalizar seu passaporte na Itália [10:08]. O casal se viu em uma situação irregular e de total incerteza [10:33], o que Patrick descreve como um “processo muito difícil durante 4 anos” [12:47].

Nesse período, o retorno ao Brasil não era uma opção, pois haviam vendido tudo para migrar [12:10]. Para sobreviver, trabalharam com delivery em Londres, enfrentando:

  • Baixa Demanda e Alta Concorrência: Poucos restaurantes abertos e mais de 50 drivers esperando por uma única ordem [16:38].
  • Rendimento Baixo: Às vezes, passavam o dia inteiro para fazer apenas 20 ou 30 libras [16:52].
  • Falta de Apoio: A pressão do aluguel semanal era constante, e não havia assistência social. Patrick chegou a trabalhar com a mão machucada e inchada por causa de um acidente, pois precisava do dinheiro [52:41].

A lição dessa fase, segundo Patrick, é que quem pensa em imigrar deve ter três pilares fundamentais: situação regularizada, onde trabalhar e onde morar [14:23].

A Virada Meteórica: De Delivery a Gerente de Starbucks

Após quatro anos de batalha legal para o reconhecimento do direito de residência (baseado na lei antes do Brexit) [13:02], o casal conseguiu a residência permanente [13:41]. Com a situação regularizada, a vida mudou “da água pro vinho em menos de 2 anos” [43:55].

Buscando um “ano sabático” para desestressar [51:17], Patrick e Viviane começaram a trabalhar no Starbucks. O que seria uma pausa virou uma ascensão meteórica:

  • Em questão de meses, ambos foram promovidos de baristas a supervisores [54:12].
  • Em menos de um ano, os dois se tornaram gerentes [55:50].

Patrick ressalta que esse crescimento ultrarrápido (que em Londres costuma levar 5 a 6 anos) é uma prova da ética de trabalho do brasileiro [56:02], que chega com o espírito de “vamos para a batalha, vamos para a luta” [57:11]. O próximo objetivo de Patrick é se tornar District Manager ou trabalhar no Head Office da empresa [57:54].

Duas Cidades, Uma Realidade: O “Para o Céu ou Para o Inferno”

O título do livro de Patrick, “Para o Céu ou Para o Inferno” (com contos de terror e fantasia), reflete a realidade da capital [42:11]. Londres é a cidade que:

  • É o Céu: “Maravilhosa, plural,” com “muita oportunidade de crescimento” e segura [42:17]. É um lugar onde se tem acesso ao mundo, a eventos culturais e shows que seriam impensáveis no Brasil [45:12]. Patrick, por exemplo, mora em um apartamento confortável de dois quartos em uma área central (Paddington/Maida Vale) por £1.600, um valor considerado muito bom para o padrão Londres [01:01:20].
  • É o Inferno: Onde vive o imigrante que ainda não conseguiu os três pilares [42:59]. A ilegalidade impõe uma “desumanização,” tirando o direito à voz e ao suporte legal [47:04]. Pagar impostos indiretos (aluguel de contas para trabalhar, aluguéis mais caros) é a regra para quem está irregular [46:38].

O Olhar Crítico: Desumanização e Hipocrisia na Imigração

O cerne da obra de Patrick é a crítica à desumanização do imigrante [20:52]. Ele argumenta que o discurso político anti-imigração é uma narrativa fácil para desviar a atenção de problemas internos [19:33].

A hipocrisia é percebida em vários níveis:

  • Mídia: Jornais britânicos rotulam como “migrante” (transient) qualquer estrangeiro [24:03] e destacam a nacionalidade de criminosos imigrantes, mas não a dos britânicos [24:30].
  • O Imigrante Contra o Imigrante: O que mais o entristece é ver brasileiros (que migraram por gosto, como a paixão pelos Beatles) criticando outros imigrantes, como refugiados de guerra [25:52]. Ele argumenta que, para quem foge da guerra, a imigração não é uma escolha, mas uma busca por sobrevivência e dignidade [26:00].
  • Refugiados: O autor critica o tratamento desigual, citando que ucranianos chegam com visto de trabalho, enquanto refugiados de outros países esperam até 8 meses por uma resposta, sem poder trabalhar e vivendo em alojamentos precários, como quartéis ou navios-prisão [37:05, 34:06].

A história de Patrick Acosta é um testemunho real de que a vida no exterior não se resume a fotos glamourosas. É uma jornada de sacrifícios, batalhas e, finalmente, de grandes conquistas para quem persevera.

Para saber mais detalhes sobre a experiência de Patrick, a diferença entre roubo e furto em Londres [01:06:58], e a comparação de infraestrutura entre Dublin e a metrópole [01:05:12], assista ao episódio completo no link: ESCRITOR BRASILEIRO NA INGLATERRA – Patrick Acosta | Bolder Podcast 487.

Você também pode encontrar o livro “Para o Céu ou Para o Inferno” na Amazon [01:24:47].

E você, já viveu o “inferno” ou o “céu” da imigração? Deixe seu comentário!

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